Desde o começo
de 2014, a mídia deu destaque ao escalonamento da violência no Distrito
Federal. Para espanto de todos, perdem-se mais vidas no DF do que em uma
metrópole como São Paulo. Em resposta, nosso governador prometeu punir
"qualquer atitude que coloque em risco a população". Mas como evitar
comportamentos delituosos, sobretudo de jovens adolescentes? Como evitar que
uma criança se torne um bandido, um assassino?
Essa é talvez
a pergunta que requer a resposta mais elaborada e o trabalho mais árduo de uma
sociedade e de seus governantes. Estando vivo, um pensador como Darcy Ribeiro
logo nos diria que é preciso, acima de tudo, atenuar a distância entre as
classes sociais. Distância que só aumenta no decorrer dos anos. Mas como fazer
isso? Um olhar mais amplo nos evidencia que a democratização da educação é uma
das chaves para um futuro mais pacífico e virtuoso.
Países como a
Finlândia, com investimento maciço no sistema educacional, registram
baixíssimos índices de violência. Portanto, temos de investir incansavelmente
na educação formal e informal das nossas crianças para que, daqui a 20 anos,
tenhamos uma sociedade sem violência. Isto é, para que a maioria das crianças
chegue à idade adulta podendo contribuir para a felicidade das famílias e o
crescimento equitativo e saudável do nosso país.
Se fosse um de
nós, o governador do DF, teria, em sua fala na televisão, dado ênfase aos
projetos educacionais do GDF. Bom exemplo seria a notícia da publicação, no
Diário da Oficial do Distrito Federal, de decreto assinado pelo próprio
governador, criando, no âmbito da Secretaria de Cultura, o Espaço Cultural
Palavida.
O projeto do
museu, idealizado por um conjunto de pensadores da Universidade de Brasília,
teve o apoio do ex-reitor José Geraldo de Souza Junior e do atual reitor, Ivan
Camargo. Isso nos releva que é possível a continuidade de projetos nas mudanças
de gestores. Ainda em estágio embrionário, o projeto foi ancorado no Núcleo de
Estudos do Futuro da UnB (n-Futuros/CEAM) e, como exemplo de boa parceria,
foram constituídos dois grupos de trabalho, um da UnB e outro com
representantes de várias secretarias do governo do Distrito Federal. Os dois
grupos, em comunhão de ideias, propuseram a construção de um espaço
multicultural voltado para a aprendizagem sobre os povos que habitam a terra:
saberes, estórias e histórias, arte, religião, língua, culinária.
Na concepção
original, o espaço volta-se para a construção do saber em família. Acreditando
que brincando também se aprende e se educa, os pensadores do museu propõem que,
além de atividades e de conteúdos voltados para jovens e adultos, o Palavida
contenha espaço para as crianças, para que elas possam conhecer aspectos da
infância em diversas culturas.
A ideia é
criar, dentro do museu, lugar dedicado ao imaginário infantil, em que nossas
crianças possam descobrir, brincando, a totalidade do globo terrestre,
entendendo que nós, seres humanos, embora às vezes tão díspares no contexto
econômico, na cultura e nas atitudes, carregamos dentro de nós valores universais
ligados à preservação da vida. A criança que for hoje sensibilizada para esses
valores jamais se tornará delinquente ou assassina no futuro.
O Palavida
deverá contar com a parceria das embaixadas sediadas em Brasília na escolha e
no fornecimento dos conteúdos e do material que possam mostrar a riqueza
cultural de cada país. Esperamos que, ao estabelecermos o primeiro módulo, a
visitação seja facultada a crianças, jovens e adultos do DF e de outras
cidades, sendo previsível que atraia turistas de outras regiões e mesmo do
exterior, em razão de ser instituição sem similar no continente.
Enfim, é
projeto que contempla toda a comunidade local e não local, para que cada
indivíduo, da periferia ou não, encontre seu lugar no futuro, respeitando e
valorizando o lugar do outro. Esse espaço cravado no cerrado será o lugar de
onde nós nos plasmaremos no outro. Ao observarmos o outro, descobriremos nós
mesmos e entenderemos qual o nosso papel na história da civilização. Qual o
caminho para a solidificação da paz, a valorização da vida e da natureza. É
projeto para a educação informal de crianças, jovens e adultos. É isso! A
institucionalização do Espaço Cultural Palavida vai na direção certa: educar
agora para não (ter de) punir no futuro.
(*) É
Professor emérito da Universidade de Brasília e geógrafo da Codeplan
(**) É
Linguista, Professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(***) É
Biólogo, professor emérito da Universidade de Brasília e coordenador do
n-Futuros
Fonte: Portal
Educacionista - Artigo de Aldo Paviani*, Cilene Rodrigues** e Isaac Roitman***
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